A decisão de desligar mais sete térmicas anunciada pelo ministro Eduardo Braga, após reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico é visto com ressalvas por especialistas do setor. Apesar da sinalização de melhoria nas condições dos reservatórios do país, ainda seria cedo para que adotar tal medida. O ideal seria aguardar o encerramento do período úmido já que ainda estamos a dois meses de iniciar o primeiro mês da época mais seca do ano.

Mesmo com Braga reafirmando por mais de duas vezes que a decisão tomada é prudente, as fontes ouvidas afirmaram que seria assim caso já tivéssemos a confirmação de quanto o país teria de reservação de água em seus reservatórios para passar o ano. Até porque a situação melhorou, mas ainda inspira cuidados caso haja uma reversão inesperada das afluências.
“Eu pessoalmente acho que vem chuva depois dessa grande seca, realmente os sinais que temos é de que o El Niño começa a perder força”, comentou Leontina Pinto da Engenho. “Por outro lado acho que ainda não chegou o momento. Os reservatórios ainda estão baixos, um nível razoável é de 60%. Depois de uma seca tão severa como a que tivemos, acho que deveríamos esperar a confirmação das afluências para sermos prudentes”, acrescentou a executiva.
Outro fato que destaca Leontina é que despachar as hidrelétricas com reservatórios ao nível atual levaria a uma perda de produtividade das usinas. Isso porque quanto mais alto o nível da lâmina da água, maior a queda e assim maior a produtividade por máquina. “Na realidade estamos trabalhando com expectativas, torcemos para que ela se mostre verdadeira”, disse.
Essa é a mesma posição do consultor da Excelência Energética, Josué Ferreira. Para ele é um pouco difícil saber se esse seria o momento mais adequado para tirar essa energia. “Em princípio acredito que pode ser um pouco antecipada a decisão. Ainda temos o Nordeste com cerca de 20% de armazenamento com estimativa de 41%. No Sudeste está melhor mas talvez seria mais adequado esperar um pouco mais para começar a reduzir esse despacho”, apontou ele.
Ferreira também citou a incerteza climática que ainda há acerca do que realmente o sistema terá nos próximos meses, mesmo com a expectativa apontando para um cenário de chuvas favorável nesse período. “Vimos quanto o sistema estava vulnerável nesses dois últimos anos”, acrescentou ele para justificar o posicionamento de preferir aguardar até o final de abril para o desligamento.
Ricardo Savoia, especialista da Thymos Energia, avalia que o cenário macroeconômico, que tem levado à redução estrutural da demanda por energia combinada ao cenário hidrológico foi considerado para essa decisão. Mesmo assim, ele se diz favorável à manutenção das térmicas ligadas, principalmente as do Nordeste que é a região que está em pior situação desde o ano passado. Dessa forma, poderíamos ter a recuperação do armazenamento naquelas usinas de forma mais acelerada.
Quanto ao cenário de baixa no valor da tarifa, os especialistas ouvidos lembraram que há ainda um passivo importante a ser pago nos próximos cinco anos e que deverá ainda pesar na conta do consumidor do mercado cativo, que é a conta-ACR.
Savoia , da Thymos, lembra que a redução da CDE, das bandeiras com a possível aplicação da verde e a tarifa de Itaipu mais baixa sinalizam sim para uma tendência de tarifa em menor patamar do que a perspectiva que se tinha para 2016 ainda em meados de 2015. “Imaginávamos aumentos entre 5% a 15% para este ano, agora esta tendência está entre zero e 5% na média com a possibilidade de termos até algumas reduções em concessionárias, mas isso será pontual”, avaliou. Mesmo assim, continuou ele, o valor da energia ainda será alto em comparação com o ACL que tem uma curva forward declinante de preços até 2018.
Inclusive, destacou Ferreira, da Excelência, o preço da energia no cativo sofreu um reajuste tão expressivo que anulou a redução de 2013 que foi proporcionada pela lei 12.783. Segundo ele, esse fator mostra que a energia está em um patamar elevado.
Leontina, da Engenho, destaca também que a redução da tarifa tem um efeito mais efetivo para a indústria do que para o consumidor cativo por conta da abrangência dessa queda sobre o total gasto. Contudo, lembra que muitos dos grandes consumidores já estão no mercado livre e com seus custos de energia equacionados por contratos de longo prazo. Com isso, a diferença mais impactante, acrescentou, se vê na distribuidora, que reduz a necessidade de compra de energia mais cara e com isso melhora seu fluxo de caixa.