O balanço que o setor químico fez até maio mostra que a elevação dos custos de produção, entre eles figura o da energia elétrica, tem impactado direta e indiretamente o segmento de produtos para uso industrial. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Química, as empresas nacionais não têm conseguido competir com as suas concorrentes cujas operações estão em regiões com mais baixo custo. A maior parte da energia utilizada pelo setor é adquirida diretamente, segundo os dados mais recentes da associação, de 2013, a autoprodução respondeu por apenas 8,3% da demanda do setor e o restante é consumido por meio de contratos no ACL.

Outros fatores que também contribuem para o aumento dos custos passa pelo gás natural que tem um peso importante como matéria prima e o custo Brasil com destaque para a alta carga tributária e as deficiências logísticas. A atividade econômica do país, que segundo o Banco Central deverá recuar 1,1% em 2015 ajuda a pressionar a indústria.
Apesar desse cenário, no consolidado até maio, a Abiquim aponta em seu Relatório de Acompanhamento Conjuntural (RAC) mesmo com a demanda por produtos químicos de uso industrial caiu 3,1% no período quando comparado ao mesmo intervalo de 2014, as exportações ajudaram a manter estável o uso da capacidade instalada no país. Ao mesmo tempo as importações recuaram 16,5%. Efeito que teve participação importante da variação cambial entre o real e o dólar. As vendas ao mercado interno de produtos fabricados no país recuaram 2,1% tendo como comparação o mesmo período de 2014 e 2015.
“O mercado não está bom e a indústria não vem bem por falta de competitividade, há uma série de fatores que contribuem para isso, principalmente pelo custo das matérias primas, principalmente o gás natural, o nafta e ainda a energia elétrica e a tarifa que temos hoje”, elencou Fátima Ferreira, diretora de Economia e Estatística da Abiquim.
No segmento químico os segmentos que mais sentem o impacto do custo da energia elétrica são o de cloro e soda, onde o insumo é usado não como energético mas como matéria prima, o que recai na questão do custo de produção citado pela executiva. O segmento de gases industriais também está nessa situação mas a diferença é que o primeiro é considerado commodity e tem preços no mercado internacional, diferente do segundo que é uma atividade de especialidade. Nos segmentos mais voltados ao uso do GN como matéria prima e a nafta, o peso da energia é menor na estrutura de custos de produção, no polo de Camaçari (BA), por exemplo, esse peso é de 20%.
O gás natural é um tema que está no centro de uma verdadeira disputa. O segmento térmico para a geração de energia em momento de crise hídrica para a queima e pelo setor químico que o utiliza como uma das principais matérias primas. O problema até o final do ano, destacou ela, é que até o final do ano a promessa é de que a Petrobras retire a política de desconto para o insumo que, segundo estimativas de mercado, hoje é de 20%, fator que encareceria ainda mais os custos do setor.
Além disso, a entidade faz parte de um grupo que defende o uso de maior valor agregado para o energético. Segundo Fátima Ferreira, a demanda é de que o gás natural seja usado para gerar energia nas fábricas, que seriam mais eficientes que as UTEs em algo próximo a 20%. Em sua avaliação, isso traria menos pressão para o sistema por conta desse ganho em eficiência.
Aliás, o setor já vem investindo em ações para reduzir seu consumo. Há pouco mais de 20 anos começou o programa Atuação Responsável. Entre as medidas da indústria, relatou, está a redução do consumo de energia e de água. Em sete anos, até 2013, o setor reduziu seu consumo em 19% o que daria menos espaço para se implantar medidas de eficiência energética como recurso para a redução de custos.