Com a entrada de fontes intermitentes na matriz e a escassez hídrica, o armazenamento de energia vem sendo apontado como tema a ser discutido. Com o seu uso já difundido em países da Europa e da Ásia, o conceito de usinas hidrelétricas reversíveis ainda não foi adotado no Brasil. A ideia é armazenar energia durante a noite para gerar durante o dia. Quando há o excedente de energia, a água é bombeada de um reservatório inferior para um reservatório superior.

Em workshop promovido pela Agência Nacional de Energia Elétrica em abril, Julian Hunt, da Stanhope Brasil Energia, apresentou uma evolução desse conceito. As Usinas Hidrelétricas Reversíveis Sazonais seriam capazes de armazenar energia em um ciclo de um ano por meio de um sistema de turbo-bomba, de modo que a energia seria armazenada durante o tempo úmido e gerada no período seco. De acordo com Hunt, o modelo pode ser um importante aliado na preservação do capital hídrico do país, que vem sendo abalado por fortes secas nos últimos anos. "A UHE Reversível Sazonal seria uma opção para aumentar o armazenamento de energia no Brasil", explica Hunt, que faz o pós-doutorado na Coppe/ UFRJ.

Ele conta que é possível instalar uma hidrelétrica em uma cascata que já existe. O vertimento vai diminuir, mas vai aumentar a quantidade de água que será armazenada na cabeceira, o que vai permitir a produção de energia. Ao contrário de uma reversível tradicional, que tem um reservatório pequeno capaz de armazenar água por apenas um dia, a UHRS pode armazenar 360 vezes mais água para gerar energia. "Em vez de armazenar para um ciclo de um dia, é para um ciclo de um ano", avisa.

Um local interessante apontado por ele para abrigar uma UHRS seria a região Sul do país, nas bacias dos rios Uruguai e Iguaçu. Outro local considerado como interessante seria entre os estados do Rio de Janeiro e São Paulo, que diminuiria o vertimento do rio Paraíba do Sul e ainda traria benefícios para o sistema, como a otimização da transmissão. O estudo traz um potencial de aumento de 140% na energia de UHEs, distribuídos em 12 projetos.

Cálculos de Hunt feitos em 2014 mostram que os custos de uma UHE reversível sazonal ficariam em US$ 3 mil dólares / kWh de geração. Essa modalidade de usina precisaria ser aceita pela Empresa de Pesquisa Energética para ser incluída no planejamento energético e entrar em um leilão de energia. O tempo de implantação seria de no mínimo cinco anos. Outro aspecto salientado por ele é que as UHRS trariam mais segurança ao sistema, diminuindo o risco de falta de energia.

Segundo Hunt, o projeto teve boa receptividade pelos agentes do setor no workshop. Empresas do grupo Eletrobras e da iniciativa privada mostraram interesse na hidrelétrica reversível sazonal. Ele espera uma chamada pública da Aneel para um projeto de Pesquisa & Desenvolvimento sobre armazenamento energético. Lá uma usina reversível sazonal poderia ser aplicada. "No workshop tive muitos contatos de interessados em desenvolver um projeto de P&D", revela.