O governo vê nas geradoras de energia eólica um meio de mitigar os efeitos dos atrasos em projetos de transmissão. Tanto é que convocaram abertamente durante o Brazil Windpower 2016 que as empresas do setor participem do certame de transmissão que está agendado para o dia 28 de outubro. A ideia é de que esses investidores geradores entrem em projetos específicos e pontuais, nos lotes que estejam diretamente ligados à capacidade de escoamento da geração.

Essa necessidade, comentou o diretor geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico, Luiz Eduardo Barata, é temporária e direcionada para projetos específicos para atender a potência instalada da fonte. “O setor eólico tem capacidade de nos ajudar a colocar e andamento os projetos de transmissão, é uma questão de curto prazo no setor elétrico”, afirmou ele em sua participação no maior evento sobre a energia eólica da América Latina, que é realizado no Rio de Janeiro.
Segundo o diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica, Tiago Barros, a agência não tem conseguido encontrar os investidores em volume necessário para atender a demanda de projetos previstos. “Dos R$ 30 bilhões projetados para serem colocados leilão, apenas R$ 15 bilhões podem sair, e isso traz um problema para o operador porque todos os lotes são importantes e trariam segurança de fornecimento ao país”, afirmou o representante da agência reguladora.
Barata afirmou que desde que participava diretamente do governo, como secretário executivo do MME, havia a identificação dessa necessidade de investimentos por parte dos geradores. Tanto que as conversas sobre essa entrada data de meses. No primeiro leilão de transmissão do ano foram lotes que levariam a aportes de R$ 12 bilhões mas foram concedidos apenas R$ 6 bilhões, nesse certame adiado para outubro seriam mais R$ 12 bilhões, além de cerca de R$ 10 bilhões por parte dos projetos da Abengoa deixados pela companhia espanhola. “Se tivesse tudo a situação estaria muito melhor a situação da transmissão. Se o segmento eólico que sabe onde precisa colocar os projetos e têm recursos, porque não aparecem como investidores também?”, questionou.
O presidente da EPE, Luiz Augusto Barroso, lembrou que há investidores disponíveis no mercado internacional e que podem aportar recursos no país. A questão é a estabilidade de regras para que os investimentos possam voltar.
Esse movimento não é uma novidade em si. Essa perspectiva já havia sido levantada pela  própria presidente executiva da ABEEólica, Élbia Gannoum, que lembrou que os associados trabalhavam para avaliar a sua participação em leiloes de transmissão para lotes direcionados ao escoamento de energia gerada para os parques das geradoras. Além disso, a entidade deverá apresentar em breve o resultado de um estudo encomendado à PSR sobre a perspectiva de leilões de geração e transmissão associados, mas ainda sem data para ser definido.
Ainda sobre a expansão da transmissão, Barata comentou que a definição das regras para os próximos leilões de energia com base na capacidade de escoamento existente está sendo preparado com base nos dados já existentes. O executivo não quis indicar qual deverá ser essa capacidade remanescente da qual trata a portaria do MME, mas indicou que deverá levar a um volume muito maior que 2,5 GW, a questão é a localização dessa transmissão, já que para a eólica os melhores locais em termos de ventos estão bastante explorados e que margem deve ser mais baixa a não ser que se tenha ampliação da capacidade nesses locais.