Passava das 12:30 horas desta quarta-feira, 21 de setembro, quando uma comitiva formada por sete estrangeiros chegou a uma das instalações mais restritas de Furnas: a Casa de Controle da Subestação Foz do Iguaçu, no Paraná. Em uma sala ampla e cheia de equipamentos estavam três experientes funcionários, com mais 30 anos de empresa. Não é à toa que o lugar é restrito. Eles são responsáveis por monitorar o funcionamento de uma das mais importantes e pioneiras subestações do sistema elétrico brasileiro. Os funcionários precisam estar atentos para realizar "manobras" complexas na rede elétrica sob o risco de deixar boa parte do país no escuro.
A exceção foi aberta em razão da relevância dos visitantes, que vieram da Holanda, Alemanha, Grécia, Tunísia, Hungria, Bélgica e México. Eles fazem parte de uma comitiva de examinadores do Escritório Europeu de Patentes (European Patent Office – EPO), uma das instituições mais importantes no mundo na área de propriedade industrial (PI), que está no Brasil para visitar empresas do setor de energia.
Os especialistas vieram conhecer, in loco, como funciona o pioneiro sistema de transmissão de ultra alta tensão em corrente contínua (HVDC/+- 600 kV) construído e operado por Furnas desde 25 de outubro 1984, como mostra uma placa de bronze na parede sala assinada pelo então presidente da República, João Figueiredo, pelo então Ministro de Minas e Energia, César Cals de Oliveira Filho, pelo então presidente da Eletrobras e diretor-geral de Itaipu, José Costa Cavalcanti, e pelo então presidente de Furnas, Licínio Marcelo Seabra.  
Na tela do computador foi possível ver que naquele momento eram transmitidos quase 11 mil MW da produção da hidrelétrica de Itaipu, montante bem próximo da capacidade máxima da usina de 14.000 MW de potência. Há momentos em que são transmitidos quase 13 mil MW dependendo da demanda do submercado Sudeste e da capacidade de produção de Itaipu, disse um dos controladores da subestação. A energia tem com destino final a Subestação Ibiúna, localizada no interior do Estado de São Paulo. Apenas uma pequena parte da energia da Itaipu é enviada ao Paraguai, que costuma demandar uma potência de 1.200 MW.
Diante do excelente estado de conservação dos equipamentos e do edifício, foi difícil acreditar que aquelas instalações operam há 34 anos. A limpeza e organização do lugar impressionam tanto quanto a dimensão dos transformadores, conversores, cabos e das torres que chegam a 30 metros de altura no topo. Aliás, para sustentar os 820 km de cabos que ligam a SE Foz do Iguaçu à SE Ibiúna, foram necessárias 1.909 torres.
O sistema de transmissão que escoa a eletricidade da maior usina em produção de energia do mundo também conta com três linhas em corrente alternada em 765 kV ligando a SE Foz do Iguaçu à SE Itaberá (SP). Esse sistema complementar foi inaugurado em janeiro de 1987.
“Essa visita trará subsídios aos especialistas europeus para avaliar melhor as patentes em transformadores, conversores, cabos e geradores. Em contrapartida, tivemos a chance de trocar conhecimento com examinadores que são referências mundiais nessas áreas. Furnas cada vez mais tem se envolvido com propriedade intelectual e essa foi uma oportunidade ímpar de aprendizado e estabelecimento de contatos para intercâmbios futuros”, destacou o engenheiro de Furnas Alexandre Pinhel.
O Escritório Europeu de Patentes é uma das cinco mais importantes instituições do mundo na área de propriedade intelectual, ao lado de EUA, Japão, China e Coréia do Sul. Esse seleto grupo é chamado de IP5 (Intelectual Property Top 5). O Escritório é uma instituição intergovernamental independente que representa 38 países europeus, porém sem ser controlado por nenhum deles. Seus examinadores lidam com a fronteira tecnológica devido à natureza técnica dos trabalhos relacionados com exame de patentes e ao fato do EPO outorgar patentes em território europeu.
O Escritório, que conta com cerca de 7 mil funcionários no mundo, realiza visitas técnicas para aprimoramento do corpo técnico. Desta forma, os especialistas veem na prática equipamentos que, eventualmente, só conheceriam no papel. Isso permite melhores avaliações dos depósitos de patentes, evitando patentes ruins, que tornam produtos mais caros ou sem vantagens aos usuários. A aquisição de patente é um processo longo e mesmo na Europa uma patente industrial pode demorar seis anos.
 
*Repórter viajou a Foz do Iguaçu a convite de Furnas.