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A venda de estatais tem sido considera por diversos estados como alternativa para reduzir o déficit fiscal, como é o caso do Rio de Janeiro e Minas Gerais. No caso de Santa Catarina, apesar do cenário desafiador, essa hipótese está descartada. “Não existe perspectiva de privatização ou de alienação de ativos por parte do governo”, afirmou à Agência CanalEnergia Cleverson Siewert, presidente da companhia, ao ser entrevistado em sua ampla sala na sede da distribuidora, em Florianópolis.
O engenheiro civil disse conhecer bem as contas públicas do estado. Trabalhou na secretária da Fazenda de Santa Catarina de 2003 a 2011, onde exerceu diversos cargos até chegar a ser chefe da pasta. Após esse período, Siewert trocou de lugar com ex-presidente da Celesc, Antonio Gavazzoni; hoje secretário de Fazenda.
“Estou há 16 anos no mundo público, fui da Secretária da Fazenda, então conheço bem as finanças do estado. Não é que a crise não chegou ao estado, mas a gente tem um momento fiscal bastante importante. Mesmo diante da grave crise, somos o estado que tem o menor percentual de desemprego do país. Enquanto o Brasil está 12% aqui está 6%. Não tivemos nenhum tipo de aumento de impostos, estamos com todas as despesas pagas e a folha de pagamento em dia”, disse.
O executivo revelou quais são os planos para a sexta maior distribuidora do país, que atende a quase 3 milhões de clientes e 92% do território estadual. A expectativa é investir R$ 300 milhões anuais entre 2017 e 2021. O objetivo é atender as novas exigências de qualidade firmadas no processo de renovação das concessões.
Para tanto, a empresa está negocia um financiamento de US$ 345 milhões com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). “Estamos tomando dinheiro no mercado a taxa de 17%, o BID vai nos emprestar a 7%. Isso traz uma lógica importante do ponto de vista financeiro da companhia. Devemos assinar até junho o contrato.”
Novos negócios – Nos últimos cinco anos, a Celesc sofreu com duas fortes ondas de migração de clientes para o mercado livre: primeiro grandes empresas e agora consumidores de menor porte. Nesse período, a empresa perdeu 30% do mercado, algo perto de R$ 1,5 bilhão em receita. Hoje 98% do faturamento da concessionária vem do negócio de distribuição.
Até pouco tempo, o mercado da distribuidora crescia a taxas de 3% a 4% ao ano, mas em 2015 levou um tombo de 2% em razão do agravamento da crise econômica do país — que reduziu o consumo de energia — e da migração de consumidores para o mercado livre. Em 2016, porém, viu o consumo aumentar em sua área em 1%, enquanto o país caiu 1%, o que sinaliza uma retomada no Estado.
“Uma perspectiva que a gente enxerga é montar uma comercializadora para trazer essa gente de volta. A gente está estudando muito isso, mas não é um negócio simples. Vamos buscar um parceiro para trabalhar esse assunto. A marca Celesc é muito forte e a partir do momento em que a Celesc chegar com um preço competitivo, temos certeza que os clientes voltarão.”
Também está nos planos abrir uma empresa para prestar serviços para instalação e manutenção de sistemas de geração distribuída. “Estamos olhando comercialização e microgeração de forma muito efetiva. São todos negócios que a gente está desenvolvendo desde a criação da Diretoria de Novos Negócios há dois anos”, revelou Siewert, que também está de olho em telecom. “Enxergamos isso como novas frentes de atuação. Não podemos ficar vinculado apenas a distribuição, hoje 98% do nosso faturamento vem da distribuição, mas não pode ser assim.”
Sobrecontratação – O portfólio de contratos da empresa apresenta sobras de energia acima do limite de 105% em 2017, o que pode causar perdas financeiras para a companhia. Com 108,5% de sobrecontratação, a expectativa, disse o executivo, é que a Aneel considere como involuntária as sobras de energia derivadas da migração de clientes para o mercado livre. Com as rodadas de MCSD e outras medidas da Aneel, a empresa espera reduzir a sobrecontratação do ano para 101,5%.
Siewert disse, ainda, que está otimista com a postura da nova equipe do Governo Federal e que espera apenas uma coisa: previsibilidade. “O setor ao longo dos últimos três anos sofreu muito com decisões autoritárias e pouco discutidas, o que desandou o que a gente tinha como normalidade. O setor foi sempre muito caracterizado pela previsibilidade e a gente perdeu isso por conta das decisões tomadas. O que a gente percebe nesses últimos meses que o presidente Michel Temer assumiu é que a nova equipe do governo trouxe mais tranquilidade para o setor. Mesmo as distribuidoras – que continuam sofrendo – há um caminho muito mais tranquilo, de diálogo, de troca de informações. Acho que todo mundo está entendendo que o momento é mais positivo para a retomara daquilo que é o ponto principal do setor elétrico: previsibilidade.”