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“Quando assumi a presidência do Conselho da Eletrobras, no dia 25 de julho de 2016, encontrei uma empresa que valia um décimo da empresa que tinha deixado a presidência em 1994, portanto 22 anos antes. Ou seja, houve uma deterioração no valor das ações, nas condições financeiras e o que é pior: houve uma deterioração dos quadros humanos, decorrente da abusiva ingerência política nas nomeações praticadas ao longo dos últimos dez anos. Isso foi o maior crime contra o setor elétrico.”

A declaração acima é do engenheiro Civil José Luiz Alquéres, 73 anos, sendo 53 deles dedicados quase que exclusivamente ao setor elétrico brasileiro. Iniciou sua carreira profissional em 1964, ainda quando era estudante de engenharia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), ao ser admitido por concurso no Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Nesse período, assumiu diversos cargos de gestão na administração pública e privada. Não por acaso, seu período à frente da Eletrobras (governo Itamar Franco) guarda relação com o contexto político enfrentado hoje por Wilson Ferreira Junior: ambos tiveram que gerir a maior empresa do setor elétrico em meio a um governo de transição, após um impeachment presidencial.

Com a chegada do presidente Michel Temer ao Palácio da República, Alquéres e Ferreira foram convidados pelo ministro Fernando Coelho Filho para a difícil missão de colocar a Eletrobras de volta aos trilhos. “Quando fui convidado, a empresa estava em uma situação desesperadora. As ações estavam à beira de serem retiradas do pregão porque ela não arquivava os balanços desde 2014.  Além disso, havia inúmeros problemas reputacionais, de corrupção. Atendi a um apelo dos meus colegas de conselho, especialmente do presidente Wilson, do professor Vicente Falconi, da advogada Elena Landau e, evidentemente, do honroso convite do ministro Coelho. Me empenhei nisso. Nove meses depois, agora em abril, na Assembleia, com o arquivamento dos formulários 20-F, a gente colocou em dia as obrigações da empresa com as bolsas de Nova Iorque e do Brasil.”

Em entrevista exclusiva à Agência CanalEnergia, Alquéres disse que cumpriu o seu papel. Deixou a presidência do Conselho de Administração da Eletrobras em abril, sendo substituído por Elena Landau. Nos nove meses que esteve no cargo, Alquéres viu dirigentes serem afastados por suspeitas de corrupção. Foi feito um “pente-fino” em todos os contratos relevantes da Eletrobras, tudo acompanhado por uma comissão de investigação independente, que tinha o respaldo da ministra aposentada do Supremo Tribunal Federal (STF) Ellen Grace. De acordo com Alquéres, essa ação foi importante para recuperar a confiança do mercado na Eletrobras.

Outra importante medida foi a definição do plano estratégico da companhia (2017/2019), que prevê corte de custos, ajuste nas despesas com pessoal e a venda de ativos. Alquéres contou que a Eletrobras devia 10 vezes o valor do Ebitda (potencial de geração de caixa). “Isso é praticamente impossível em qualquer parâmetro. Ao final de nove meses, reduzimos para 5,7 a relação dívida sobre o Ebitda. Colocamos como meta chegar em 3,5x ao final de três anos. Se continuar nesse ritmo, especialmente se houver a venda das distribuidoras, vai ser possível bater essa meta.”

Para Alquéres, o grande desafio será adequar o quadro de pessoal da Eletrobras. Nos últimos dias, Wilson Ferreira ficou exposto na mídia após o vazamento de uma conversa com sindicalistas, em que ele chama alguns funcionários com cargos de chefia na estatal de vagabundos e safados. A fala pegou mal e o executivo precisou pedir desculpas publicamente. Na segunda-feira,26, Ferreira declarou que não iria renunciar. Na terça-feira, 27, o ministro Fernando Coelho Filho declarou apoio a Ferreira.

Na opinião de Alquéres, Wilson Ferreira, reconhecido como um dos melhores executivos do Brasil no período em que esteve à frente da CPFL Energia, é “extremamente necessário para a recuperação setorial”.

“Tudo está sendo conduzido com extrema competência e dedicação pelo presidente Wilson Ferreira, que realmente vem demostrando ser um dos maiores presidentes da história da Eletrobras. Eu falo isso muito à vontade, talvez porque seja um dos poucos brasileiros que tenha conhecido todos dos presidentes da Eletrobras, desde o primeiro, o Paulo Richer.”

Segundo Alquéres, o ambiente de desmotivação em que se encontrava os funcionários da Eletrobras exigia uma liderança com capacidade de indignação. “O que ele expressa não é uma opinião pessoal. Ele expressa a indignação da sociedade, que paga o custo elevado dos serviços em decorrência de uma situação de privilégios indevidos. Isso também precisa ser lido pelo outro lado, pois 60% dos funcionários da Eletrobras estão empenhados em mudar essa situação, gente da mais alta qualidade, gente que respeita o Wilson.”

Questionado se a situação política do presidente Temer pode comprometer os planos da Eletrobras, respondeu: “Minha experiência de vida mostra que cenários políticos de transição, como foi o governo Itamar e agora, são extremamente propícios para se fazer reformas, encarar as dificuldades. Ninguém que participa de um governo desse tipo está preocupado em aparecer bem na foto. Está preocupado com o Brasil, com o julgamento da história. Não há próxima eleição para essa turma que está aí, por motivos variados. Por outro lado, um executivo que pega um desafio como esse, nesse momento da vida, vindo de 11 anos na presidência da melhor empresa do Brasil, não fez isso para ganhar dinheiro ou ambições profissionais. Fez por doação pessoal, por uma causa maior, como fiz de uma maneira menos exposta no Conselho.”

Alquéres disse que agora é editor de livros. Seu mais recente lançamento é a biografia do ex-ministro de Minas e Energia (1969/1974) Antonio Dias Leite, falecido no último 6 de abril, intitulada “O meu século – Brasil em que vivi”. O executivo também presta consultoria na JLA Consultores Associados.