A agência de classificação de risco Moody’s acredita que a demanda por energia elétrica no Brasil cairá mais do que o previsto pela 1ª revisão quadrimestral. Em um relatório divulgado nesta segunda-feira, 6 de abril, aponta que a retração seja de pelo menos 2% em 2020. A projeção anterior, contudo, estava abaixo do esperado oficialmente no país, que era de 4,2%. Para a agência o crescimento estimado era de 2,6%.
Segundo a análise da agência, a demanda cairá ainda mais severamente no segundo trimestre em decorrência do distanciamento social e restrições operacionais de negócios, especialmente para empresas de distribuição que atendem às grandes áreas metropolitanas do Brasil. Essas medidas começaram a ser implementadas a partir do final de março e por isso a expectativa de maior impacto ao longo do trimestre que se iniciou na semana passada.
No relatório a agência projeta que a demanda residencial provavelmente aumentará à medida que aumenta o trabalho remoto e à medida que as escolas adotarem ferramentas de aprendizado distante com mais frequência. Mas essas mudanças não compensarão totalmente a queda na demanda industrial e comercial, que provavelmente levará mais tempo para se recuperar. Ainda assim, espera que a demanda em 2021 fique maior na casa de 1,3 vez o crescimento do PIB do ano que vem, previsto em 2,7%, com base na recuperação econômica e na crescente eletrificação dos serviços.
Na avaliação da Moody’s, os efeitos econômicos advindos da crise com o novo coronavírus não tem precedentes equivalentes no passado. Por isso aponta que  a disseminação da doença levará a atrasos nos investimentos e em ganhos de eficiência.
Entre os motivos apontados estão a elevação de custos operacionais das companhias do setor elétrico e pressões de capital de giro. “As concessionárias de energia elétrica rapidamente se tornarão excessivamente contratadas, pressionando as margens, mesmo com o aumento do risco de inadimplência e perda de energia”, avalia a Moody’s. “Os serviços públicos adiarão os investimentos de capital para preservar a liquidez e para evitar interrupções na cadeia de suprimentos e escassez de mão-de-obra”, acrescenta.
Contudo, aponta, a qualidade de crédito permanece estável. Além disso, destaca que o apoio do governo e a regulamentação favorável ajudarão a amenizar o estresse das concessionárias. A agência lembra que os esforços governamentais e regulatórios iniciais se concentraram na saúde pública, segurança e proteção, impedindo que as distribuidoras cortassem o serviço para clientes residenciais inadimplentes por 90 dias, além de outras medidas de alívio regulatório e financeiro para empresas e diversos setores da economia.
“À medida que o impacto total da crise se torna mais claro, os reguladores provavelmente tomarão outras medidas de alívio, incluindo alívio extraordinário de tarifas para as concessionárias reguladas. Assumimos que o suporte regulatório continuará a mitigar as pressões do capital de giro e preservar a qualidade do serviço, oferecendo às empresas de distribuição alternativas para ajudar a reduzir exposições involuntárias de volume em uma desaceleração prolongada ou para compensar subsídios incrementais com recursos de fundos setoriais existentes, como CDE, o setor de energia”, aponta a Moody’s, lembrando ainda que a Aneel pode reconhecer a exposição involuntária das distribuidoras.
Para a agência de classificação de risco, o segmento de transmissão será o menos afetado pelo coronavírus por conta de sua natureza regulatória que prevê a receita por disponibilidade. Mesmo assim, alguns projetos que ainda estão em construção enfrentam riscos mais altos de atrasos programados e custos incrementais de importação de equipamentos, dada a desvalorização de 24% do Real desde o final de 2019. E lembra que a Taesa revelou que alguns de seus fornecedores terceirizados de engenharia e construção estão alegando dificuldades em cumprir com seus cronogramas de trabalho em resposta à pandemia em função das regras de isolamento impostas por governos.
E avalia que quaisquer atrasos mais prolongados deverão obrigar as transmissoras a buscar waivers (alívios) na questão de multas previstas em contratos por conta da imprevisibilidade da situação e não por conta de negligência ou má conduta dolosa na execução do contrato. “Também vemos baixo risco de liquidez para as transmissoras, cujos prazos longos de vencimento da dívida e caixa adequado oferecem uma proteção em momentos críticos”, finaliza a Moody’s.