As mudanças no modelo do planejamento energético previstas para entrar em vigor em janeiro de 2023 podem trazer um elemento de maior volatilidade ao setor energético brasileiro. A afirmação é da especialista da CPFL Energia, Mônica Zambelli, durante um webinar promovido pela Cogen (Associação da Indústria de Cogeração de Energia) e pela Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) na última quinta-feira, 28 de abril. Na ocasião ela explicou que pela nova forma a aversão ao risco estaria mais restrita do que o modelo atual.

Para Mônica o novo formato será mais severo quando a hidrologia estiver desfavorável, uma vez que esse cenário trará uma tendência de elevação do Preço de Liquidação das Diferenças (PLD) em prol da segurança energética. A tendência para o futuro é que o Ministério de Minas e Energia (MME) acelere a agenda de modernização do setor energético, buscando uma maior valorização dos serviços ancilares e fatores ambientais.

“Tudo vai depender de como transcorrerá o período seco. Se tivermos um período razoável, com 80% de armazenamento, não teremos problemas no começo do ano que vem. Mas se tiver uma reversão e consumirmos a reserva, teremos um 2023 mais prejudicado, com uma pancada nos preços”, alerta.

A especialista explicou que entre as alterações está a ampliação da janela de tendência hidrológica, que passará a ser anual, cobrindo um período de 12 meses. Atualmente o cenário é mensal, perfazendo até seis meses anteriores. Outra mudança são os parâmetros de aversão ao risco, que hoje consideram até 50% dos piores cenários. O novo modelo reduz a margem da aversão ao risco para 25%.

Nesse último ponto o objetivo é possibilitar o aumento da geração térmica para economizar os níveis dos reservatórios dentro do procedimento do modelo, o que, de acordo com Zambelli, deve ajudar a reduzir a interferência externa – como o despacho fora do mérito – e mitigar os riscos energéticos em cenários de hidrologia adversas que virão.

Riscos

A representante da CPFL também fez uma avaliação do cenário atual e riscos para o futuro, citando que a pandemia já não representa tanta pressão sobre o consumo de energia. Porém, outros fatores pesam, como a guerra na Ucrânia – que eleva os preços do petróleo – além da volatilidade causada pelo cenário eleitoral e incertezas regulatórias.

Mônica avaliou também que os leilões de capacidade chegaram para ficar e configuram uma solução considerada importante para viabilizar a operação de usinas de energias renováveis. Porém, questiona se esta se trata da única alternativa.

Por sua vez o gerente de Bioeletricidade da Única, Zilmar de Souza, declarou que incluir a energia do bagaço de cana nos leilões ainda é um desafio. Ele enfatizou número da biomassa, gerando algo em torno de 15 mil MW, equivalente a aproximadamente 8% da matriz elétrica, e a da cana-de-açúcar produzindo aproximadamente 11 mil MW. Já o presidente executivo de Cogen, Newton Duarte, destacou a importância da discussão sobre o valor adequado aos serviços ancilares, visto a energia possuir a capacidade acoplada à potência.