Em um contexto de crise hídrica e energética, a notícia de que um gigantesco parque eólico está iniciando parte da operação comercial soa fresco como brisa. O Complexo Eólico Rio do Vento, pertencente à Casa dos Ventos, iniciou a operação comercial de algumas turbinas em momento oportuno.

O parque tem mais de 1 gigawatt (GW) de capacidade instalada divididos em duas fases. Para isso, foram necessários investimentos de mais de R$ 5 bilhões divididos entre recursos próprios da companhia, bancos de fomento como o BNDES e Banco do Nordeste, debêntures e equity.

A primeira fase tem 504 MW de capacidade instalada divididas em 120 turbinas. Desse montante, 15 turbinas já estão em operação e outras 15 devem entrar nas próximas semanas. São quatro frentes de montagem trabalhando full time para implementar o projeto o mais rápido possível para colocar em operação entre quatro e cinco turbinas por semana. A empresa fez recentemente a energização da estação coletora e avança com obras com objetivo de que todas as turbinas estejam em funcionamento até o fim do ano.

O diretor de Novos Negócios da Casa dos Ventos, Lucas Araripe, conversou com exclusividade com o CanalEnergia Live desta quarta-feira, 14 de julho, sobre os desafios de injetar energia no sistema no atual momento. “Todo o contexto de crise hídrica e energética, vamos entrar com projeto de escala de Rio do Vento nesse momento da safra dos ventos de maior geração”, diz.

Essa energia toda já está contratada. A maior parte em PPAs de longo prazo com grandes clientes, como Braskem, Energisa Comercializadora, Anglo American, entre outras. “Conseguimos ser muito competitivos nesses contratos de longo prazo. Além do custo reduzido, esses contratos geram previsibilidade para os clientes, que se protegem das oscilações de mercado”.

Segunda fase
Para a segunda etapa, o projeto vai incluir uma potência adicional de 534 MW. Após a conclusão das duas fases, Rio do Vento será o maior complexo de geração de energia eólica na América Latina, além de ser maior do que qualquer outro parque eólico em operação hoje no mundo.

As obras iniciam ainda neste semestre de 2021 e as turbinas entram em operação no segundo semestre de 2022 e início de 2023. “A gente deve ter contratos de longo prazo, contratos-âncora para dar financiabilidade ao projeto, mas vamos deixar uma parcela descontratada para atender outro perfil de cliente”, diz. Ele conta ainda que a empresa já vem transacionando essa energia.

“É um ciclo de investimentos que somam R$ 7 bilhões para atender esses 1,5 GW de potência até 2023”. Lucas Araripe, diretor de Novos Negócios da Casa dos Ventos

Novos projetos
Nesse segundo semestre de 2021, a Casa dos Ventos inicia a construção de um outro projeto chamado Babilônia, na Bahia, com 360 MW de capacidade instalada e deve entrar em operação paralela à segunda fase de Rio do Vento.

“Estamos agregando nos próximos dois anos, quase 1,5 GW de capacidade instalada, um reforço importante nesse momento de crise hídrica e energética. É um ciclo de investimentos que somam R$ 7 bilhões para atender esses 1,5 GW de potência até 2023”.

Ambos projetos têm sido negociadas parcelas mínimas em leilão de energia e todo o resto é destinado ao mercado livre. Todavia, com a indicação de preços melhores nos últimos certames, o executivo vê nisso uma oportunidade.

“Acendeu o alerta no setor de que leilões podem ser um canal de distribuição para viabilizar projetos que estavam parados nos últimos. Tem um A-5 agendado para esse ano e vamos analisar, mas sempre mirando no conceito híbrido de ter uma parcela em leilões, mas destinar a maior parte da energia aos grandes consumidores”.

Araripe se mostra entusiasmado com a ideia de projetos híbridos. Segundo ele, os ventos do Nordeste têm um perfil de geração mais noturna, por isso é possível dimensionar projetos solares ao longo do dia e aproveitar a infraestrutura de subestação que fica mais ociosa.

“Para os projetos Rio do Vento e para Babilônia, a gente iniciou o processo de mensuramento e cotação para estudos de projetos solares para hibridizar esses projetos. Devemos ter mais ou menos 200 MW solares em cada um desses complexos, somando 400 MW no total”, afirma.