A tão proclamada transição energética é um movimento interdisciplinar que demandará custos aos agentes e sobretudo ao consumidor final, que deverá arcar com parte desse processo a partir de incrementos nos preços finais de diferentes produtos industriais que estão reduzindo suas pegadas de carbono. A avaliação foi a tônica do primeiro painel dessa manhã no terceiro e último dia do evento ECOA-PUC-Rio, nessa quinta-feira, 1º de junho.

Para a especialista em Sustentabilidade da Firjan, Andrea Lopes, é preciso fechar uma equação que torne a fabricação de produtos brasileiros com menos emissões de dióxido de carbono (CO2) ao mesmo tempo em que fique competitivo nos mercados nacionais e internacionais, sobretudo aos players eletrointensivos e com maior dificuldade em descarbonizar suas operações e toda cadeia logística envolvida.

“Para ter produtos competitivos e de baixo carbono é importante políticas públicas que fomentem essa transição para a indústria, como o programa Aliança, que trata da eficiência energética”, exemplifica, citando que um dos incentivos indiretos vem de alguns setores que estão tendo que se adaptar para não sofrerem taxações para entrada no mercado europeu, um dos mais avançados em subsídios ligados ao mercado de carbono.

Outras frentes a serem priorizadas e que soam como oportunidades na avaliação de Andrea são os empregos verdes que estão surgindo e a necessidade de desenvolvimento de novas competências para a formação dos profissionais, além de defender mais fomento à pesquisa e inovação no país.

Um desses casos de difícil remoção do carbono é na produção do aço, que necessita de altos investimentos e poucas tecnologias consolidadas para descarbonização. Durante o evento, a Arcelor Mittal divulgou sua estratégia para reduzir as emissões escopo 1 e 2 em 25% até 2030, maximizando aquilo que já possui, como aumento do uso de sucata, gás natural e biomassa renovável nos processos existentes, além é claro da eficiência energética, prevendo atingir a neutralidade até 2050 com novas tecnologias e energias renováveis.

“Acredito no Brasil como potência verde, temos extensão territorial, insolação, regime de ventos, uso do carvão vegetal renovável para produção do aço e um grande mercado consumidor”, analisa o gerente geral de Sustentabilidade na Arcelor Mittal Brasil, Guilherme Abreu, afirmando ser preciso educação de todos os setores e da sociedade para colocar em pratica todos os elementos e ativos para tornar o país produtor em larga escala de renováveis, hidrogênio, aço verde, entre outras frentes e caminhos.

Em sua análise, o gás natural é o combustível de transição e não da solução, rogando que o custo do insumo no país deveria estar três vezes menor do que é praticado atualmente, e que para diminuir o carbono na produção do aço serão necessárias políticas públicas assim como vem acontecendo na Europa, e num segundo patamar nos Estados Unidos, Canadá, China, Coréia do Sul e Japão. “No fundo sabemos quem irá pagar pelas emissões e externalidades, que serão repassados aos produtos e ao consumidor final”, pondera.

Sobre o mercado de carbono, Guilherme entende que o ambiente regulado deve acontecer nos próximos três anos no país, visto que apesar das dificuldades de concatenação de diferentes agendas, a demanda existente irá extrapolar as questões governamentais, recaindo nos investimentos e no mercado consumidor. “Nossa diferença é que o preço do CO2 no Brasil será muito lastreado pelo mercado voluntário florestal, o que será um ponto decisivo a nosso favor para ter um preço de carbono não tão inflacionado”, opina.

Na visão do subsecretário Adjunto de Energia na Secretaria de Estado de Energia e Economia do Mar  (SEENEMAR), Daniel Lamassa, a transição energética justa será financiada pelas empresas de óleo e gás, que já estão investindo em novas tecnologias para não ficarem para trás nesse futuro que se apresenta, o que pode ser visto pelos lançamento de planos e projetos para eólica offshore e hidrogênio verde.

“Quem vai bancar a transição é o setor de óleo e gás, até para seguir no mercado no futuro”, afirma, lembrando que apesar do gás ser o combustível da transição, ainda há espaço para petróleo brasileiro à nível mundial. Ele destaca o óleo prospectado nos campos de Tupis como um dos mais verdes do mundo, tendo 17% de emissões de carbono frente a média de 40% global.

“A última gota de petróleo produzida no mundo será do pré-sal brasileiro”, finaliza, destacando também o advento do biometano no país, sobretudo no estado do Rio de Janeiro, que concentra as maiores oportunidades mas só utiliza 2% do seu potencial.