Ainda que a previsão meteorológica aponte para um outono mais quente do que o comum para essa época do ano, a Climatempo projeta uma mudança de padrão para a primavera com o La Niña. “Podemos ter alguns recordes em dias pontuais, mas essas ondas de calor, tão frequentes como agora, não devem acontecer no próximo verão ou primavera”, disse a Especialista Técnica de Clima e Mudanças Climáticas da empresa, Marcely Sondermann.

“A tendência é de melhor previsão de chuva e devemos estudar um pouco melhor os modelos de vazão para análises mais assertivas que depois impactariam no preço da energia”, acrescenta. Atualmente o modelo utilizado é o chamado autorregressivo, mas ela reforça ser preciso pensar na variável primária, utilizando melhor a previsão das chuvas para reverter nas vazões.

De acordo com a especialista, a realidade brasileira quanto à previsão dos eventos extremos é ainda mais complexa na medida em que o país precisaria contar com mais dados de observações, o que é feito atualmente pelas estações do Inmet, Cemaden e Ana, numa cobertura que não é ideal. “Teria que ser uma estação a cada 10 km ou radares que abrangessem áreas mais extensas para alimentar com mais frequência os modelos e calibrar as previsões”, ressalta.

Muitas probabilidades, poucas previsões

Sobre o La Niña, o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico, Luiz Carlos Ciocchi, comentou que a única certeza é de muitas probabilidades e poucas previsões, as quais geralmente apontam para temperaturas mais amenas e chuva no Norte e Nordeste. Essa última efetivamente ajudaria o sistema elétrico, apesar de não andarem em consonância com a geração éolica, que pode ser prejudicada.

“Estamos olhando para a estação chuvosa no final deste ano para uma operação em 2025 com segurança. Nosso desafio é segurar o recurso hídrico e utilizar as UTEs para atendimento de ponta”, indicou o dirigente em entrevista à Agência CanalEnergia nos corredores do Agenda Setorial, evento que acontece nessa quarta-feira, 13 de março, no Rio de Janeiro.

Ciocchi falou que tem visto previsões de temperaturas de 45 graus Celsius para os próximos dias em algumas regiões do país, o que deve elevar a demanda e levar ao acionamento de térmicas de forma pontual. E afirmou que a estação chuvosa que está terminando é nada satisfatória, apesar dos bons níveis dos reservatórios que asseguram o abastecimento de 2024.

Outro destaque é que o ONS tem lidado diariamente no casamento entre a curva de geração e carga por meio de rampas de 20 GW a 25 GW, volume que pode subir para 50 GW já em 2028. Sobre os impactos da variabilidade que a Geração Distribuída impõe ao sistema, ele classificou o crescimento da modalidade como um fenômeno mundial de decisão dos consumidores, sendo complicado colocar ordem nessa vontade soberana. “O que pode ser colocado são critérios técnicos, da mesma forma como existem os padrões de engenharia para diferentes construções”, afirma.

O Operador vem há pelo menos três anos em contatos diretos junto ao Inmetro para especificar os padrões técnicos dos equipamentos e minimizar alguns efeitos à rede, principalmente das distribuidoras. Essa ação se soma à ideia de quanto mais dados as distribuidoras conseguirem coletar da rede melhor, já que não adianta para o ONS operar na ponta e varejo. “Temos uma base bastante razoável sobre a variabilidade da GD, o que vai sendo aprimorado ao longo de uma contínua evolução”, indica.

Intercâmbio com o Cepel

Ademais o ONS irá aperfeiçoar os modelos computacionais que serão transferidos pelo Cepel, num memorando assinado nesse ano com a Eletrobras. A ideia é que os estudos fiquem prontos no primeiro semestre e que possa ser implementado ainda nesse ano, o que dependerá também da viabilidade econômica. “Temos que dar passos à frente, trabalhando com sistemas abertos e não apenas nas necessidades do ONS, mas também de outros agentes”, conclui Ciocchi.