Perdas comerciais na rede elétrica. Em todo o mundo, concessionárias de distribuição de energia enfrentam, anualmente, prejuízos da ordem de bilhões de dólares em virtude dessas ocorrências, chamadas também de “não técnicas”, que decorrem em grande parte de furtos ou fraudes nos sistemas de medição de instalados nas unidades consumidoras.

No Brasil, tais perdas equivalem, segundo a Aneel, a 6,7% da energia injetada na rede, correspondendo a aproximadamente R$ 4,5 bilhões. Diante desse contexto, o Cepel tem buscado desenvolver soluções tecnológicas como forma de auxiliar as distribuidoras a lidarem com o problema. Uma destas soluções visa monitorar, alertar e atuar quando campos magnéticos de alta intensidade são posicionados próximos a medidores de consumo.

De acordo com o pesquisador Luiz Carlos Grillo de Brito, o Centro trabalha nesta iniciativa desde 2017, a pedido de uma distribuidora que possuía índice de perdas comerciais bastante elevado, e que descobriu fraudes produzidas por aplicação de campos magnéticos intensos, que produziam redução do registro do consumo real das unidades consumidoras. “A solução foi desenvolver uma ferramenta que engloba um dispositivo modular, sistema e método para o monitoramento destes campos de alta intensidade”, explica o pesquisador, acrescentando que o invento teve seu pedido de patente solicitado junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) no final de junho.

Além de Luiz Carlos, participam do desenvolvimento do projeto os pesquisadores Daniel Ferrer Berquó, Luiz Fernando Pereira Barros, Cesar Jorge Bandim e José Eduardo da Rocha Alves Junior. Eles explicam que o principal objetivo do circuito proposto é detectar, identificar, registrar e informar, local ou remotamente, de forma permanente e consistente, que campos magnéticos externos de alta intensidade foram aplicados em medidores de energia elétrica com objetivo de fraudar uma medição de consumo. “Além disso, pode atuar, penalizando este tipo de ação, com a suspensão imediata do fornecimento de energia elétrica para a unidade consumidora”, complementam.

Ganhos econômicos vão além

Os colaboradores do projeto também afirmam que a redução das perdas não técnicas também produz outros ganhos de ordem econômica, uma vez que o sistema possibilita uma maior margem operacional das redes elétricas, considerando-se que regiões de perdas elevadas são mais suscetíveis a acidentes e desligamentos provocados por aumentos de cargas desconhecidas e subfaturadas.

O invento, ao auxiliar no combate à fraude de energia, também contribui para maior segurança e qualidade do fornecimento energético e para a modicidade tarifária aos consumidores. Cabe ressaltar que essas ocorrências causam prejuízo tanto para os consumidores quanto para as concessionárias, influenciando negativamente a tarifa de energia elétrica.

Recentemente, a Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara dos Deputados aprovou proposta que obriga as distribuidoras de energia a especificar, nas faturas emitidas ao consumidor, o valor referente a este tipo de perda. A proposta será analisada em caráter conclusivo pelas comissões de Minas e Energia; Constituição e Justiça; e Cidadania.

Próximas etapas

O Cepel submeteu à Light uma proposta de projeto, dentro do programa P&D Aneel, para o desenvolvimento de cabeças-de-série do protótipo desenvolvido em seus laboratórios. A previsão é de que seja aprovado ainda em 2019.

A próxima etapa envolve o aperfeiçoamento do protótipo, objetivando sua reprodução em maior escala e mais testes de laboratório e de campo. A produção de um lote pioneiro deve ser realizada em seguida, para validação e controle da qualidade do objeto que se pretende comercializar. Em seguida, a proposta é firmar contratos ou convênios com empresas dispostas a produzir e comercializar a solução.

O Centro também informou estar avaliando a possibilidade de solicitar o pedido de depósito da referida patente em outros países.