A comercializadora Compass e a Polo Capital Management deram a largada em uma operação inédita unindo o mercado financeiro e o setor elétrico. Gestores financeiros estão investindo em contratos de energia elétrica para formar os seus fundos, transformando o ativo físico em financeiro. O objetivo é investir em um risco específico, ficando fora do risco de mercado. De acordo com Marcelo Parodi, sócio da Compass Energy, essa operação vai fazer com que agentes do mundo financeiro como corretoras, bancos ou fundos de investimentos possam transacionar contratos de energia. "Abrimos o leque de agentes para o mundo financeiro, devemos ganhar uma liquidez muito maior do que a de hoje", explica.

Ele conta que o mercado livre de energia no país tem a sua liquidez restrita ao ambiente físico, com as operações registradas no âmbito da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. Segundo ele, no mundo, em especial na Europa e nos Estados Unidos, esse ambiente físico foi evoluindo para um mercado financeiro com o passar dos anos, o que fez com que esses mercados ganhassem um múltiplo transacional, trazendo uma negociação maior que o volume registrado no ambiente físico.

A operação com a Polo Capital foi registrada na CCEE e um espelho do contrato financeiro foi registrado na Central de Custódia e Liquidação Financeira de Títulos, para que seja caracterizada como ativo financeiro. A comercializadora conseguiu proporcionar para o fundo da Polo a liquidez que ele desejava em relação ao preço da energia para 2016, gerando o resultado desejado. "Ela quis se posicionar no mercado e ela acabou usando a Compass para criar essa liquidez", revela.

É na liquidez permitida que o executivo enxerga o principal benefício desse tipo de operação. Segundo ele, uma operação no médio e longo prazo não tem tantas contrapartes nem há um processo de formação de preço que forneça uma visão exata da curva futura. Ele espera a vinda de outros players para oferecer contratos de compra e venda. "O ganho de liquidez é o maior benefício que a gente vai ter ", avisa. Outra vantagem que Parodi vê é a melhoria na relação de risco de crédito, com a possibilidade de players com bons riscos, como bancos ou grandes fundos estarem presentes nas negociações.

A ideia vinha sendo amadurecida pela comercializadora há alguns anos, que pensava como colocá-la em prática no mercado brasileiro. Após alguns meses de diálogo com a Cetip, a opção foi apresentada ao mercado financeiro. O ineditismo da operação já despertou o interesse de outros fundos e até mesmo de escritórios de advocacia, que querem entender como são feitos os contratos. ‘Sentimos uma repercussão muito boa", diz Parodi. Como o assunto energia sendo debatido por vários motivos como a alta das tarifas e a seca dos reservatórios, o momento também acabou se tornando oportuno.

A boa expectativa para o mercado livre em 2016 é outro fator que faz com que a comercializadora acredite em mais operações dessa categoria. Parodi também promete para 2016 o Compass Energia Multimercado. Será um fundo fechado de energia elétrica que no início ainda vai usar o mercado físico como ponto de partida para as transações, mas que no futuro, planeja ter uma dinâmica própria do mundo financeiro, se desvinculando.