A indicação passada pelo Conselho Nacional de Política Energética de que o país terá mais ações de eficiência energética abre uma nova perspectiva para o setor. Segundo dados da Associação Brasileira de Empresas de Conservação de Energia, o Brasil possui um potencial de economizar R$ 13,6 bilhões com medidas de eficiência energética. Em termos de consumo, o país poderia deixar de gastar 11,12% da demanda registrada pela Empresa de Pesquisa Energética no ano de 2014, ou seja, pouco mais de 52 mil GWh.

De acordo com a estimativa da Abesco, esse potencial está praticamente dividido por igual entre os segmentos residencial com 15,3 mil GWh e o industrial com 17,2 mil GWh. O comercial apresenta possibilidade de economia de 12,1 mil GWh. Os demais segmentos apresentam um potencial de economia de quase 8 mil GWh. Em meados deste mês, a entidade promete liberar uma nova projeção do impacto que a eficiência teria sobre o mercado nacional com dados atualizados.
Na avaliação do presidente executivo da entidade, Rodrigo Aguiar, esse caminho indicado pelo CNPE não é uma surpresa, pois a entidade vinha desenvolvendo um trabalho junto ao MME e Aneel para demonstrar a importância que esse segmento tem e o impacto sobre o setor. Todo esse potencial, continuou, deriva do fato de que não houve nenhum programa mais abrangente para se desenvolver a eficiência energética.
“Essa não era a prioridade do MME, a eficiência foi deixada de lado porque a prioridade era a de aumentar a capacidade de geração, mas isso mudou desde o ano passado com indicações de que essas ações poderiam mudar de status, afinal há limitações em relação a novas UHEs e as UTEs que temos têm levado os preços a um nível absurdo”, avaliou ele. “Agora, a eficiência energética entrou como ferramenta de geração virtual de energia quanto de redução de custos e aumento de competitividade no país”, acrescentou.
Nesse sentido, a entidade tem participado de um grupo de trabalho junto ao Ministério de Desenvolvimento Indústria e Comércio que visa desenvolver ações de eficiência junto ao mercado nacional utilizando a experiência japonesa. Uma missão daquele país, contou ele, veio ao país para realizar o diagnóstico de três grandes empresas (dos setores químico, cimento e metalúrgico) para em outubro voltarem com as ações a serem implementadas nessas fábricas. Segundo Aguiar, outras três empresas podem entrar nesse piloto. Ele não quis revelar o nome das empresas que aderiram voluntariamente ao projeto.
Independente do segmento de consumo, a demanda por energia em edificações responde por metade do potencial de ações de eficiência energética. Por isso, disse Aguiar, medidas que atendam a essa parcela do mercado brasileiro já elevaria a economia de consumo e consequentemente menores gastos com o insumo.
Aguiar disse que a experiência atual do Japão é importante por conta dos resultados que aquele país vem obtendo ao longo dos anos. O país já vem adotando medidas desde os anos 1970. Em 1979 foi lançada a lei de conservação de energia que permitiu naquela época a redução no uso de energia primária. E, com o terremoto seguido por um tsunami em 2011 levou ao 4º plano de eficiência. Ainda nesse ano, fizeram a revisão dessas ações visando ampliar o volume de reduções de consumo de energia.
Em 2003 quando foi implantado o primeiro programa nesse sentido, um dos pontos para o plano japonês é o da introdução de energia renovável. Desde então, até 2008 o crescimento dessas fontes foi de 5%. De 2009 a 2012 esse índice aumentou para 9% em média e de 2012 a 2013 disparou com um crescimento de 32% em decorrência de um modelo parecido com o brasileiro com contratos de longo prazo de compra de energia por renováveis por meio de distribuidoras.
“No setor industrial há a obrigatoriedade de se apresentar anualmente um relatório complexo sobre o consumo de energia e atividade produtiva. A cada cinco anos a empresa tem a obrigação de reduzir 5% o seu consumo de energia”, destacou o executivo.
E entre outras ações que foram adotadas por lá estão a formulação de um índice por segmento das referências de eficiência energética para facilitar as referências de economia por setor. Ampliação dos acordos bilaterais com organismos como a Agência Internacional de Energia e a Agência Internacional de Energia Atômica para ampliação das ações de eficiência. E ainda a ampla comunicação com todos os níveis da sociedade sobre o problema energético e sobre os benefícios dessas medidas.