As afluências no submercado Sul estão em seu pior nível no histórico de 90 anos. Desde o início do ano as vazões por lá estão bem abaixo da média histórica. Segundo dados do Operador Nacional do Setor Elétrico, a estimativa para maio é de que encerre com nível de energia natural afluente equivalente a 13% da média de longo termo, ou pouco mais de 1 mil MW médios. E a perspectiva está um pouco melhor para o próximo trimestre na região.
Segundo Marcio Oliveira, diretor da Conmet, a incerteza está muito presente nas previsões meteorológicas. Mas disse que a tendência é de leve melhora. Mas, lembrou que essa previsão é do ponto de vista meteorológico e não hidrológico, ou seja, que efetivamente vira vazão para o submercado. “Mesmo com eventos de chuvas no sul devemos ter uma entrada de junho com um déficit grande, mas julho tende a ser diferente e mais favorável”, disse ele.
O meteorologista participou do 5º webinário Agenda Setorial 2020 edição especial, evento realizado pelo Grupo CanalEnergia-Informa Markets pela internet por conta da pandemia do novo coronavírus. Oliveira destacou que este ano no Brasil não houve a influência do La Niña, que é caracterizado pela diminuição das temperaturas do Pacifico Sul e causa chuvas no Nordeste do país deixando o Sul em uma condição mais pressionada, fato verificado esse ano.
Na avaliação da meteorologista Patrícia Madeira, diretora da Climatempo, o período úmido de 2020 esteve mais influenciado pelas ocorrências do oceano Atlântico do que o Pacífico. Lembrou que o cenário acabou sendo mais positivo para os submercados Nordeste e Sudeste, principalmente na bacia do rio Grande, decorrente das chuvas concentradas em Minas Gerais.
Apesar de não ser verificado nenhum bloqueio atmosférico no sul, as frentes frias “responderam mal” o que levou ao não registro de vazões significativas na região. “Em 2021 há probabilidade maior de El Niño, mas devemos ver mesmo é ficar na neutralidade assim como esse ano e o Atlântico mais importante do que o Pacífico para o país”, acrescentou a meteorologista.
Justamente por ser uma questão recheada de incertezas, Oliveira comentou ainda que é possível a ocorrência de evento extremo no Sul do país e reverter a situação atual. Essa ocorrência, comentou ele, já foi vista em anos passados, onde um evento climático levou de 100 a 120 mm para a cabeceira do Iguaçu e do Uruguai e reverteu uma seca. Para se ter uma ideia da restrição hídrica de região, no trimestre de fevereiro a abril a frustração de vazões ficou em uma faixa de 300 mm a 400 mm.
Bruno Soares, da Ampere Consultoria, acrescentou por sua vez que a situação no submercado Sul é a pior nos 90 anos de medição. E que se não fosse a pandemia que reduziu o consumo a situação por lá estaria mais pressionada.