Classificando 2016 como um ano importante para o aumento da eficiência do parque brasileiro, Fernando Luiz Zancan, presidente da Associação Brasileira de Carvão Mineral, viu um alto número de projetos inscritos no leilão A-5 que acabaram inviabilizados devido ao preço. Ele ainda define o carvão como uma fonte atraente, mesmo com algumas empresas abandonando novos projetos que contemplem a fonte. Em entrevista à Agência CanalEnergia, Zancan defende a modernizações das plantas como uma resposta as investidas que vem sendo feitas para a adoção exclusiva de fontes renováveis.

“Buscamos um mundo de baixo carbono e não o ‘nós contra eles’. Os fósseis não podem ser discriminados se eles podem gerar energia de baixo carbono”, avisa. Este e outros temas estarão em discussão nos dias 18 e 19 de maio, no 13º Encontro Nacional de Agentes do Setor Elétrico, no Rio de Janeiro. O Enase é uma promoção do Grupo CanalEnergia com 19 associações.

Agência CanalEnergia: Quais são as perspectivas para o carvão mineral em 2016?

Fernando Luiz Zancan: Esse ano teremos uma redução na venda de carvão de cerca de 20%, devido a menor geração térmica de nossas usinas. Temos um projeto de 340 MW – Pampa Sul da Tractetebel em construção na região de Candiota/RS e uma usina que deverá entrar em operação já devidamente modernizada que é a usina de Figueira da Copel. Portanto será um ano importante para a melhoria de eficiência do parque termoelétrico brasileiro.

Agência CanalEnergia: O alto número de projetos que foram inscritos no leilão A-5 sinaliza que a fonte ainda é atraente?

Fernando Luiz Zancan: A fonte carvão mineral é uma fonte atraente e vários projetos estão desenvolvidos e com as licenças ambientais aptos a participar dos leilões. O Preço do leilão A-5 foi aquém do esperado e dificultou a participação de algumas usinas térmicas. Mas investidores estão interessados em desenvolver projetos a carvão mineral, porque entendem que a base térmica deve, no mínimo, manter o seu percentual na matriz, para dar a segurança energética ao modelo hibrido renovável-térmico onde as fontes intermitentes têm um acréscimo significativo. Portanto tem espaço para a energia termelétrica, e das usinas térmicas fósseis o carvão tem o menor CVU. As térmicas a carvão nacional, por ter um combustível nacional que não é um produto comercializado no mercado internacional e tem seu valor em moeda nacional, não sofrem variações e com isso dá uma previsibilidade ao custo da energia. Por isso, a política energética deverá contemplar o carvão como fonte térmica de energia firme e importante para o sistema. Os investidores que tiverem projetos desenvolvidos e licenciados terão sua oportunidade.

Agência CanalEnergia: Como a associação viu a decisão da Engie de optar por não mais desenvolver novos projetos a carvão?

Fernando Luiz Zancan: Todas as empresas de energia do mundo estão buscando participar em um mundo de baixo carbono. A ABCM também está engajada nessa estratégia, na busca de uso de carvão com maior eficiência e captura de CO2. A Engie tem ao longo de anos investido em hidráulica, eólica e agora em solar mostra esse interesse. Por outro lado, a sua participação do carvão no Brasil, tem no Complexo Jorge Lacerda (857MW) e agora com a construção usina Pampa Sul (340 MW) complementa um portfólio de geração que tem demonstrando, com esse mix renovável-térmico, uma operação de sucesso nos últimos anos. Vimos com tranquilidade essa decisão da empresa que muito tem contribuído com a economia do Sul do Brasil.

Agência CanalEnergia: Não falta uma ação mais efetiva na eficientização de usinas a carvão, de modo que se mostre que é possível um carvão mais limpo e menos impactante?

Fernando Luiz Zancan: Esse processo está em curso, a Copel inaugura uma usina em outubro deste ano com o dobro da eficiência da usina anterior, em um processo de modernização. A ABCM vem cobrando, há mais de seis anos, do MME um programa de modernização do atual parque termelétrico nacional. Temos ao logo deste ano como prioridade estabelecer esse Programa, que visa aumentar a eficiência média de 28% para, no mínimo 36%, o que fará com que possamos reduzir cerca de 20% o CO2/MWh. A busca de implantar um novo parque de 2.150 MW em substituição ao atual parque com usinas de alta eficiência de baixas emissões é o desafio que temos nesse ano. Essa iniciativa que deverá estar implantada com as usinas operando até 2027 requer uma decisão política do MME.

Agência CanalEnergia: O que a fonte deve apresentar como resposta a acordos internacionais e investidas pela adoção total de fontes renováveis em detrimento a projetos que usem combustíveis fósseis, como o carvão?

Fernando Luiz Zancan: O programa de modernização acima citado se encaixa nas iniciativas brasileiras para o atendimento do Acordo de Paris. Por outro lado, devemos lembrar que o que buscamos é um mundo de baixo carbono e não a política “de nós contra eles”. Os fósseis não podem ser discriminados se eles podem gerar energia de baixo carbono. Portanto incentivando medidas que venham a aumentar a eficiência das plantas com as tecnologias de alta eficiência e baixas emissões conhecidas como HELE, o uso de carvão com biomassa em usinas de Leito fluidizado e as tecnologias de captura de CO2 é a resposta que deve ser considerada. Nós da ABCM, junto com a empresas do setor como a CGTEE, estamos investindo em um projeto P&D de Captura de CO2 com apoio do Departamento de Energia dos USA via o National Energy Technology Laboratory, que visa capturar CO2 com cinza de usinas termelétricas. Esperamos operar uma planta piloto no em 2017 no Centro tecnológico de baixo carbono que está instalado na Associação Beneficente da Indústria Carbonífera de Santa Catarina em Criciúma (SC).