A agência de classificação de risco S&P Global Ratings informou que os ratings da Eletrobras não foram afetados pela venda do controle das distribuidoras Boa Vista Energia, Ceron e Eletroacre, realizada no leilão de privatização da última quinta-feira (30).

Na avaliação da S&P, o perfil de risco financeiro da empresa segue altamente alavancado e as métricas de crédito devem seguir estáveis, com um índice de dívida ajustada sobre EBITDA acima de 6,0x e geração interna de caixa (FFO – funds from operations) sobre dívida de 4,0% em 2018 e 2019. Ainda assim, a agência enxerga como positiva a estratégia da Eletrobras de priorizar os segmentos de geração e transmissão. Em 2016, a empresa optou por não renovar suas concessões de distribuição, que apresentavam fraco desempenho operacional, com o compromisso de operá-los até que fossem privatizados.

Para a vice-presidente da Moody´s, Cristiane Spercel, a venda das distribuidoras avançou mais rápido do que o previsto, o que representa um desdobramento positivo para o perfil de crédito da empresa. “A operação é um marco importante do plano de reestruturação da Eletrobras, que tem como alvo a venda de ativos de distribuição que não são fundamentais a fim de alcançar um índice Dívida/EBITDA menor que 3x no final deste ano. A saída bem-sucedida do negócio de distribuição contribuirá para a melhora das margens, diminuição das necessidades de investimento e resultados mais consistentes da companhia”, comentou Cristiane.

O grande vencedor do leilão foi a Energisa, que adquirirá participação de 90% na Ceron e de 87,61% na Eletroacre, mediante a aprovação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE e pela Agência Nacional de Energia Elétrica. A Eletrobras fará jus ao recebimento de um valor de R$ 130.000 pelo valor de suas ações nessas empresas e terá a opção de converter em ações empréstimos dados a essas entidades, que totalizam R$ 2,3 bilhões (R$ 1,8 bilhão na Ceron, R$ 342 milhões na Boa Vista Energia e R$ 113,8 milhões na Eletroacre).

Da mesma forma que a Eletrobras, a agência de classificação de risco também confirmou que os ratings e a perspectiva da Energisa não foram imediatamente afetados pelas potenciais aquisições. Na análise da S&P, a empresa irá se beneficiar da expansão de sua presença no Brasil, principalmente na região norte do país, uma vez que os estados de Rondônia e Acre são contíguos ao Mato Grosso, onde opera a distribuidora da empresa, a Energisa Matogrosso-Distribuidora de Energia, o que permite ganhos de escala e a captura de sinergias.

Além disso, a agência espera que o Grupo Energisa seja capaz de melhorar o desempenho operacional e financeiro da Ceron e da Eletroacre nos próximos anos, dado seu histórico positivo na reestruturação das distribuidoras que a empresa adquiriu do grupo Rede em 2015. A previsão para as métricas de crédito em 2018 e 2019, é do Índice de dívida sobre EBITDA entre 2,8x-3,3x (versus a projeção anterior de 2,3x-2,6x) e FFO entre 18%-23% (ante a expectativa anterior de 25%-28%).

“As aquisições são positivas para o crédito da Energisa e consolida a companhia como o quinto maior grupo de distribuição do Brasil. No entanto, melhora na rentabilidade destas companhias, para o mesmo nível de outras companhias de distribuição da Energisa, exigirá maiores investimentos para a redução de perdas de energia, o que pressionará as métricas de crédito da empresa”, comentou Cristiane Spercel, da Moody’s.

Em sua análise, o montante de R$ 1,9 bilhão em dívidas e contingências da Ceron e da Eletroacre se traduzirá em uma relação dívida líquida sobre Ebitda próxima de 4,0x para Energisa no final de 2018, acima do patamar de 3,0x em 30 de junho de 2018. Por outro lado, mitiga esse risco a confortável disponibilidade de caixa para cumprir com as exigências de R$ 493 milhões em aporte de capital inicial nas distribuidoras. Potenciais sinergias com a Energisa Mato Grosso e a experiência do grupo no setor também devem ajudar na transformação das companhias arrematadas em um prazo razoável.