A presença feminina no setor elétrico teve avanço quantitativo na última década, acompanhando um movimento de maior conscientização das empresas em relação às ações de inclusão no geral, que abrange não apenas a temática de gênero, mas também a da diversidade. Os números, no entanto, ainda não são muito animadores, alerta a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica, Elbia Gannoum, destacando que apenas 33% da força de trabalho vem das mulheres, segundo dados da Agência Internacional de Energias Renováveis.
O número significa que há um longo caminho pela frente até que se alcance uma situação de maior equidade, mas essa trilha já está definida, disse a executiva em entrevista à Agência CanalEnergia. “O fato é que a inserção da mulher no mercado de trabalho e no setor de energia, em um ambiente que era dos homens, tem acontecido. E isso se deve à entrada das próprias energias renováveis.”
A dirigente da Abeeólica lembrou que o setor passou a absorver profissionais de outras áreas além da engenharia, como economistas e advogados, aumentando a diversificação e a participação feminina. Ela prevê que a velocidade de absorção de mulheres deve aumentar nos próximos anos, até pela pauta ESG (relacionada a aspectos ambientais, sociais e de governança), que tem permitido às empresas essa mudança no mundo corporativo.
“A pauta ESG traz muito retorno para as empresas. E as pesquisas mostram que quando você tem uma diversidade maior , você tem ganhos maiores. E outro fator que é importante deixar claro é que o lugar da mulher é onde ela quiser. E as empresas estão enxergando isso”, disse a executiva. No caso das eólicas, as companhias nascem mais inclusivas, e há casos em que mais de 50% da força de trabalho é feminina. O tem que se buscado são não apenas as mulheres em cargos de direção, mas também na operação e manutenção.
Há iniciativas como a da AES Brasil, que pretende operar o complexo eólico de Tucano (365,8 MW), na Bahia, com um time 100% feminino. O empreendimento tem previsão de entrada em operação no segundo semestre desse ano.
Liderada pela executiva Clarissa Sadock, a empresa implantou um Programa de Diversidade, Equidade e Inclusão, que tem entre as metas aumentar o quadro feminino. Uma das primeiras ações, segundo a AES, foi justamente a formação de uma turma de mulheres pelo Senai BA em um curso de Especialização Técnica em Operação e Manutenção de Parques Eólicos, com duração de março a outubro de 2021.
A Casa dos Ventos vai promover ao longo desse ano cursos profissionalizantes gratuitos como carpintaria e construção em alvenaria, em comunidades vizinhas aos complexos eólicos Rio do Vento (RN) e Babilônia Sul (BA). Metade das vagas serão reservadas para mulheres.
A Elera também tem promovido, em parceria com o Senai do Rio Grande do Norte, capacitação em construção civil para a instalação de parques eólicos, destacando que as vagas também estão abertas para mulheres.
Na Engie Brasil, que tem um quadro majoritariamente masculino (74% de homens e 26% de mulheres), as vagas administrativas são distribuídas de forma igual, mas há um desequilíbrio nas atividades de implantação de projetos e operação e manutenção.
O esforço para formação de obra feminina nessas áreas começou com um projeto piloto em Umburanas (BA), onde foi aberta uma turma para mulheres do curso de Auxiliar de Eletricista para Aerogeradores, em parceria com o Senai BA. Depois do primeiro, foi realizado um segundo curso. Outro projeto da empresa, em parceria com Senai RN, oferece capacitação em geração eólica e fotovoltaica em Lajes.
Entre as ações da GE está a contratação pela LM Wind Power, a fábrica de pás eólicas do companhia em Suape (PE), de um turma feminina de 30 jovens aprendizes. A empresa também anunciou o compromisso de contratar mais mulheres para operação e manutenção.
Na Vestas tem aumentado a participação de mulheres em posições mais tecnológicas, como Scheduler, Installation Supervisor e Construction Apprentice. Já a EDP e EDP Renováveis lançaram globalmente a campanha #Rebelsforchange, que pretende promover a discussão sobre a necessidade de mais mulheres nas carreiras de Ciência, Tecnologia, Engenharia ou Matemática (Stem, na sigla em inglês).
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