Com o intuito de liderar uma transição justa, inclusiva e que gere valor, a Eneva idealizou uma nova estratégia ESG. A maior geradora térmica do país colocou como compromissos para até 2030 reduzir as emissões, melhorar os índices sociais nas áreas em que atua e preservar o bioma amazônico. De acordo com Anita Baggio, Diretora de Gente, Performance, ESG, HSE, Responsabilidade Social, Comunicação & Cultura da Eneva, após uma revisão do planejamento estratégico o ESG foi incorporado aos princípios da empresa, fazendo parte da estratégia. A geradora lançou na última sexta-feira, 3 de junho, seu relatório de sustentabilidade.

A diretora detalhou as metas estipuladas. Na parte de emissões, a intenção é de investimentos de R$ 500 milhões em tecnologias de baixo carbono, levar a intensidade das emissões para 0,39 tCO2e/MWh na geração a gás até 2030, o phase out do carvão até 2040 e ser Net Zero até 2050. Na área social, a empresa quer beneficiar 50 mil pessoas diretamente e outras cem mil indiretamente, através de projetos direcionados para geração de renda e educação. Já na parte da preservação da Amazônia, onde a Eneva atua no fornecimento a sistemas isolados e produção de gás, a companhia quer conservar 500 mil hectares de áreas protegidas na Amazônia Legal até 2030.

Ela considera importante para a empresa ter o E (Environment/ Ambiental) e o S (Social) do ESG bem próximos, uma vez que a Eneva atua em estados do Norte e Nordeste do país. Nessas regiões, os índices sociais são mais baixos em pontos como educação e saneamento, além dos que ainda estão sem acesso à energia. Ações para apoiar famílias de vulnerabilidade com bioeconomia e agricultura orgânica são ferramentas para geração de renda, assim como a redução do analfabetismo e a formação de mão de obra local estão presentes na responsabilidade social.

Ainda de acordo com Anita Baggio, o processo de definição das metas envolveu um olhar sobre as tendências do planeta, abordando não só o setor elétrico. Houve a participação não só do conselho, mas também de stakeholders e 22 líderes em 27 pontos focais, que puderam trabalhar em um plano de ação. “Temos uma rede bem capilar na Eneva para refletir e trabalhar esses compromissos e planos de ação”, avalia .

Um ponto que a executiva destaca é o papel da empresa na transição energética. Apesar de ainda não ter ativos renováveis, a geração térmica a gás nos sistemas isolados exerce um papel importante nesse movimento, já que reduz em 30% as emissões na matriz da Amazônia Legal ao substituir o óleo por gás. O energético também tem um papel importante, por equilibrar a intermitência das fontes renováveis, como eólicas e solares.

A Eneva ainda não tem ativos de energia renovável, mas em breve esse quadro muda. Com a compra da Focus Energia, Futura1 (BA – 671 MW), em construção e que será uma das maiores plantas do Brasil, será agregado ao portfólio. Apesar da pegada renovável, a aquisição da Focus não foi baseada em critérios ESG, mas sim em oportunidades de retorno nos negócios, como a capilaridade na comercialização de energia e no vislumbre ao hidrogênio verde, considerado o insumo da transição. “Tem que fazer um sentido dentro do planejamento estratégico da companhia como um todo”, avisa, lembrando do pioneirismo com Tauá (CE – 1 MW), um dos primeiros projetos solares do Brasil, quando a Eneva ainda se chamava MPX.

O desafio na estratégia ESG é transformar os riscos em oportunidades. A política para o carvão, com o phase out definido e o uso de combustível importado mais eficiente são exemplos, assim como a atuação nos sistemas isolados que diminui as emissões na região amazônica.

Com a pandemia, os questionamentos no mundo inteiro sobre energia por parte dos investidores aumentaram bastante. A transparência também vem sendo bastante demandada. O setor elétrico é visto de forma integrada ao ESG. Como a mais variadas indústrias, a da energia também tem seus níveis de impacto ao meio ambiente, com a geração de energia devendo aparecer da forma mais consciente possível.

A transição energética é um tema que vem sendo discutido com maturidade pelos agentes do setor elétrico, segundo Anita Baggio. Para ela, o setor tem desempenhado um papel impulsionador grande em fóruns técnicos, como na formação de políticas públicas para o mercado de carbono, assunto bem visto pela área de ESG. “O país sai de uma inércia de dizer que tem a maior matriz limpa do mundo e diz que também tem coisas aqui para fazer”, observa.