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Mesmo com as mudanças feitas nos últimos anos no programa de Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação da Agência Nacional de Energia Elétrica, o setor no Brasil ainda pode progredir mais. De acordo com André Nunes, Managing Partner da Beta-i Brasil, empresa de consultoria global de inovação colaborativa, o país precisa se beneficiar mais do desenvolvimento tecnológico que já existe no mundo e para isso, a participação de empresas estrangeiras na linha de frente dos projetos de P&D deveria ser permitida. Hoje, isso não seria aceito.
“Não é possível contratar uma empresa estrangeira diretamente para aplicar verba de PD&I. É preciso que essa empresa estrangeira crie um CNPJ no Brasil ou que tenha um parceiro local”, explica. Segundo ele, mesmo que a empresa possa participar do projeto, a elevada tributação acaba sendo um fator impeditivo para a atuação estrangeira.
Ainda segundo ele, a contratação de tecnologias estrangeiras já reconhecidas, mesmo fora do âmbito do P&D, fica inviável por conta da carga de tributos. Nunes vê o Brasil em um patamar inferior ao da inovação na Europa, EUA e Ásia. Mas por outro lado, classifica o nosso ecossistema como interessante, embora restrito em start ups. A vinda de agentes internacionais amadureceria o setor e evoluiria a inovação local.
“Por isso, é que essa abertura ao mundo é importante. Vai permitir atrair talento, que é na verdade aquilo que vive a inovação. Inovação sem talento não existe. Inovação não é tecnologia. A inovação é o talento que desenvolve tecnologia”, afirma.
Ele acredita que as empresas brasileiras de energia devem estar conectadas com o que há de melhor no mundo na inovação. As conversas não devem ficar apenas no âmbito das start ups e centros de tecnologia e pesquisa, mas devem buscar utilities do resto do mundo para entender o que se passa lá e o que existe de melhor. “Muitos dos desafios que as empresas brasileiras enfrentam hoje, essas empresas já enfrentaram e já resolveram”, pondera.
A Beta-i Brasil é considerada uma das pioneiras em Portugal na área de inovação. Nunes liderou o Free Electrons, programa global de inovação em energia que conecta empresas dos cinco continentes que atuam com inovação aberta. No Brasil, ele também participou de programas como o Copel Volt, Starter Business Accelerator e desenhou estratégias de inovação para grandes players como EDP e Cemig.
O diretor da Beta-i-Brasil vê como desafio do setor local para a inovação, além dessa conexão com o mundo, transformar o esforço de um projeto em P&D em algo que esteja conectado com o mercado, de maneira que interfira positivamente na relação com o consumidor. “Que permita, por um lado, gerar mais impacto do consumidor, seja porque gera uma maior capacidade de atender, porque gera uma melhor oferta, além de uma melhor operação e serviço do ponto de vista daquilo que é o dia a dia da operação da própria empresa de energia”, comenta.
Para ele, o momento é o de as empresas entenderem que a inovação deve ser usada em favor do consumidor, sob pena de todo o esforço de abertura e liberalização o mercado não suprir o esforço almejado. Ele alerta que desde que existe a obrigação legal de P&D, um percentual mínimo gerou algo que efetivamente teve impacto positivo para o consumidor.
Na visão de Nunes, as mudanças feitas no manual do P&D da Aneel levaram a uma mudança radical na forma como as empresas viam o programa. Antes eram muito ligados em pesquisa primária, junto com universidades e centros de pesquisa, mas hoje o manual já permite o trabalho em soluções mais avançadas.
“Isso leva a que muitas empresas estejam olhando agora para a verba de P&D como algo que podem usar para melhorar inclusive a eficiência operacional, o atendimento ao cliente e trazer mais inovação para o dia a dia de uma forma mais rápida e com ganhos também do ponto de vista de receita, mudando o perfil dos parceiros para desenvolver esses projetos”, observa.
Ele elogia as mudanças feitas no manual, como start ups poderem participar dos P&Ds, o que antes não era possível. O diretor da Beta-I também alerta da necessidade que as empresas têm para comunicar sobre os seus avanços na área de inovação, de maneira que o consumidor saiba o que está sendo feito na prática.
“Muitos programas que nós rodamos fora do Brasil, por exemplo, tem pilotos sendo desenvolvidos com consumidor, para que eles vejam na prática do seu dia a dia, como é que poderão vir a ser beneficiados daqui a um, dois ou três anos com novas tecnologias. E isso é algo que eu acho podiam fazer mais aqui também no Brasil”, aponta.
Nunes conta que o panorama de PD&I no setor elétrico brasileiro teve uma mudança nos últimos anos. O motivo foi a privatização de empresas como Eletrobras e Copel e que acabou se expandindo para outros players. Segundo ele, antes havia um foco em tecnologias disruptivas, novos modelos de negócios visando o longo prazo. Mas agora os olhares do setor estão voltados para a eficiência operacional, por conta da mudança no modelo de gestão, que acabou priorizando os ganhos no curto prazo.
“Algumas privatizações que aconteceram, no setor elétrico aqui no Brasil levaram uma mudança no modelo de gestão de empresas que era uma referência para as demais. Diria que hoje 90% das conversas que eu tenho com empresas do setor, o foco está em eficiência operacional”, recorda.
Ele também salienta que a busca pela inovação na eficiência operacional também vem sendo orientada para a parte de corporativa, envolvendo pontos como os Recursos Humanos e relações com fornecedores.
Nunes elogia o potencial do Brasil na área de pesquisa e inovação no setor elétrico. Para ele, o Programa de P&D da Aneel dá uma condição única ao país, que é ter uma verba destinada, que não acontece em outros países. Por conta disso, o país reúne as condições para ser um hub de inovação com escala global.
Ele diz compreender os preceitos que norteiam a Aneel no manual de P&D e vê chances de evolução no futuro. Mas reforça que fomentar a atuação internacional na inovação do Brasil pode inclusive fazer com que os players internacionais que atuam no setor elétrico daqui usem o país como laboratório de experimentação.
“Se usarem pelo menos o mecanismo que já existe hoje, que é poder criar sandboxes regulatórios, criem mecanismo de exceção para testar estes modelos de colaboração com players internacionais. Acho que isso vai permitir ver que esse modelo no curto, médio e longo prazo vai mudar o jogo da energia no Brasil”, comenta.
A empresa tem atuado em um projeto com a Catapult Energy Systems, do Reino Unido, que conecta start ups britânicas com empresas do setor de energia brasileiras. Em nível global, segue com o Free Electrons e lançará com o governo do Rio de Janeiro, a vertical de energia do Blue Rio, programa de economia azul, orientado para sustentabilidade.